Dra Márcia Marques Guimarães

Diabetes mellitus é uma doença crônica que atinge muita gente. Em 2021 aproximadamente 537 milhões de pessoas em todo o mundo viviam com essa doença, e a cada ano novos casos vêm se somando a esse número. Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, 10,2% da população do nosso país é diabética. Por causa disso o diabetes tem se tornado uma preocupação crescente em saúde pública. Estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e controle eficaz da doença são essenciais para amenizar o impacto do diabetes na saúde global e na qualidade de vida das pessoas afetadas pela doença.

Qual médico procurar?

O clínico geral e/ou o medico de família é frequentemente, o profissional que vai diagnosticar e iniciar o tratamento do diabetes. Através de uma consulta qualificada, em que o médico está disponível para ouvir e entender as demandas do paciente, é possível identificar em uma medida simples da glicemia capilar, se a glicose no sangue está elevada e solicitar os exames necessários para a confirmação do diagnóstico.

Sou a Dra. Márcia Marques e tenho vasta experiência no diagnóstico e tratamento do diabetes mellitus. Sou médica há mais de 30 anos, estou disponível para oferecer o cuidado e acompanhamento adequados, abordando cada paciente de maneira integral e individualizada.

Diabetes – entender e descomplicar.

O diabetes mellitus é uma doença crônica que acontece quando o corpo não produz insulina suficiente ou não consegue utilizar adequadamente a insulina que produz.

A insulina é um hormônio essencial para o funcionamento do nosso organismo, pois é responsável pelo metabolismo dos carboidratos. É através dela que a glicose entra nas células para ser usada como energia. Os carboidratos são nutrientes que obtemos através dos alimentos que comemos:

  • frutas
  • tubérculos: batatas, mandioca, cará, inhame.
  • legumes: cenoura, milho, moranga, beterraba.
  • grãos e cereais: arroz, feijão, trigo, grão-de-bico, lentilha, aveia, quinoa.
  • produtos lácteos: leite, iogurte, creme de leite, queijos.
  • alimentos processados: açúcar, doces, refrigerantes, chocolates, sorvetes.
  • produtos de panificação: pães, bolos, biscoitos, tortas.

Após ingerir os carboidratos, esses alimentos são “quebrados” no sistema digestório e transformados em glicose. A glicose é absorvida pelo intestino e liberada na corrente sanguínea, sendo usada pelas células como combustível. Por ser uma das principais fontes de energia para o corpo humano, a glicose precisa estar em equilíbrio para garantir a saúde e o desempenho normal das células e órgãos, e evitar doenças como o diabetes mellitus.

A glicose precisa da insulina para circular pela corrente sanguínea e entrar nas células. O pâncreas é o órgão que produz a insulina. Quando ingerimos alimentos, principalmente aqueles ricos em carboidratos, os níveis de glicose no sangue aumentam. Em resposta, o pâncreas libera a insulina que informa às células que há glicose disponível e auxilia na passagem da glicose para dentro da célula, como se fosse uma chave de acesso.

Quando acontece um desequilíbrio entre a quantidade de glicose disponível no sangue e a capacidade do corpo de utilizá-la, a concentração de glicose aumenta e isso recebe o nome de hiperglicemia. Se o organismo apresenta uma dificuldade ou incapacidade constante de usar a glicose, ela “sobra” na corrente sanguínea e esse excesso persistente é a origem do diabetes.

Diabetes tipo 1

É uma condição autoimune. O sistema imunológico do nosso corpo ataca as células do pâncreas que produzem insulina. Por causa disso não há produção suficiente de insulina e as pessoas com esse tipo de diabetes precisam tomar o hormônio diariamente. Geralmente aparece na infância ou adolescência, mas pode ocorrer em qualquer fase da vida.

Diabetes tipo 2

É o tipo mais frequente e ocorre quando o corpo não consegue usar a insulina de maneira eficiente (resistência à insulina)ou produz pouca insulina. Está muito relacionada ao estilo de vida e fatores de risco, e é mais comum em adultos mas pode afetar jovens e crianças também.

Diabetes gestacional

Acontece durante a gravidez , quando o corpo da mulher não consegue produzir insulina suficiente para a suprir demanda aumentada. Geralmente desaparece após o parto, mas aumenta o risco de desenvolver diabetes tipo 2, e por isso precisa de avaliação periódica.

Existem fatores de risco para o diabetes?

Fatores de risco são condições, características ou comportamentos que aumentam as chances de uma pessoa desenvolver uma determinada doença. Para o diabetes, os principais fatores de risco são:

Diabetes Tipo 1

  • Histórico familiar: ter um parente próximo (pais, irmãos ou avós) com diabetes.
  • Genética: certos genes estão associados a um risco maior de desenvolver diabetes tipo 1.
  • Fatores ambientais: a exposição a certos vírus pode desencadear a resposta autoimune que leva ao diabetes tipo 1.
  • Geografia: a incidência é mais comum em alguns países, como a Finlândia e a Suécia.

Diabetes tipo 2

  • Excesso de peso: o sobrepeso/ obesidade é um dos principais fatores de risco para diabetes tipo 2.
  • Sedentarismo: a falta de atividade física regular contribui para o ganho de peso e resistência à insulina.
  • Histórico familiar: ter um parente próximo (pais, irmãos ou avós) com diabetes.
  • Idade: o risco aumenta após os 45 anos.
  • Etnia: hispânicos, afro-americanos e nativos americanos têm risco aumentado.
  • Colesterol alto: níveis elevados do colesterol “ruim” (LDL) e do triglicérides.
  • Síndrome dos Ovários Policísticos: mulheres com SOP têm risco aumentado para desenvolver diabetes tipo 2.

Diabetes Gestacional

  • Sobrepeso ou obesidade antes da gravidez.
  • Histórico familiar: ter um parente próximo (pais, irmãos ou avós) com diabetes.
  • Gestantes acima de 30 anos.
  • Bebê muito grande (4 kg ou mais) em gestação anterior.

Sintomas e diagnóstico do Diabetes

Se a pessoa tem níveis elevados de glicose, apresentará sintomas característicos e serão necessários exames de laboratório para confirmar o diagnóstico.

Sintomas de Diabetes tipos 1 e 2

  1. Sede excessiva (polidipsia): a pessoa está constantemente com sede , mesmo bebendo muita água.
  2. Urina frequente (poliúria): necessidade muito frequente de urinar, especialmente à noite , e grande volume urinário.
  3. Fome excessiva (polifagia): sentir fome intensa e constante.
  4. Perda de peso inexplicada: apesar de alimentar-se regularmente, a pessoa começa a perder peso (mais comum no tipo 1).
  5. Fadiga: sensação constante de cansaço ou falta de energia, mesmo após descansar.
  6. Visão embaçada: dificuldade para enxergar e turvação da visão.
  7. Cicatrização lenta de feridas: lesões que demoram a cicatrizar e infeccionam com frequência.
  8. Infecções diversas e frequentes: na pele, urinária, nos genitais, etc.
  9. Formigamento ou dormência nas extremidades (neuropatia diabética).
  10. Escurecimento da pele: acontece nas dobras de pele, como pescoço e axilas, e é chamada acantose nigricans, que pode ser um sinal de resistência à insulina (tipo 2).

O diabetes gestacional não costuma causar sintomas. Quando acontece, serão sintomas semelhantes aos do diabetes tipo 2. O diagnóstico é feito na rotina de exames de pré-natal.

O Diabetes tipo 1 pode manifestar-se subitamente e levar a uma emergência médica chamada cetoacidose diabética, que exige tratamento imediato. O tipo 2 pode desenvolver-se lentamente e ser assintomático (ou ter poucos sintomas) por anos, o que significa que muitas pessoas podem ter a doença sem saber. Para a confirmação do diagnóstico dos três tipos de diabetes, serão necessários exames de laboratório:

  • Glicemia em jejum: mede a glicose no sangue após um jejum de 8 horas.
  • Hemoglobina glicada: mede a porcentagem de glicose ligada à hemoglobina no sangue. Ele reflete os níveis médios de glicose nos últimos 2 a 3 meses.
  • Teste Oral de Tolerância à Glicose (TOTG): após um jejum de 8 horas mede-se a glicemia; em seguida a pessoa ingere uma solução açucarada, e a glicemia é medida novamente, 2 horas depois.
  • Teste de glicemia aleatória: a glicose no sangue será medida em qualquer momento do dia.

Se o resultado de um teste sugere o diagnóstico de diabetes, um segundo teste diferente será solicitado para a confirmação. O diagnóstico precoce e preciso do diabetes é indispensável para iniciar o tratamento e prevenir complicações graves no longo prazo.

Tratamento do Diabetes

O tratamento vai depender do tipo de diabetes e das necessidades individuais do paciente e precisa ser supervisionado por um ou mais médicos. São três os pilares do tratamento do diabetes:

Mudanças no estilo de vida : é comum aos três tipos de diabetes e mudanças simples tem um impacto muito positivo no controle da doença. Devem ser mantidas por toda a vida da pessoa e demandam disposição e disciplina. As principais mudanças que impactam no controle dos três tipos de diabetes são:

    • Controle alimentar: é fundamental seguir uma dieta equilibrada, com controle dos carboidratos e gorduras saturadas.
    • Exercício físico: a prática regular de atividade física ajuda a controlar os níveis de glicose no sangue e pode melhorar a resposta do organismo à insulina.
    • Controle do peso corporal: manter o peso corporal adequado é muito importante, principalmente para o controle do diabetes tipo 2.

    Medicamentos:

    1. Insulinas: são medicações injetáveis essenciais para pessoas com diabetes tipo 1, mas em alguns casos, para pessoas com o tipo 2 também. É o tratamento mais indicado no diabetes gestacional.
    2. Medicamentos orais: também conhecidos como hipoglicemiantes orais, são os mais usados no diabetes tipo 2. Algumas gestantes também se beneficiam com o tratamento oral. Atualmente os medicamentos orais mais usados são:
    • Metformina – reduz a produção de glicose pelo figado e melhora a resposta à insulina.
    • Sulfonilureias – aumentam a liberação de insulina pelo pâncreas.
    • Inibidores da DPP-4: ajudam a prolongar a ação dos hormônios que aumentam a liberação da insulina após as refeições.
    • Inibidores da SGLT2: ajudam a eliminar a glicose através da urina.
    • Agonistas da GLP-1: ajudam a aumentar a liberação de insulina e reduzir o apetite.

    Monitoramento:

    Monitorar regularmente a glicose no sangue é parte indispensável do tratamento do diabetes. Pode ser feito diariamente através da medida da glicemia capilar. O teste é realizado utilizando-se um glicosímetro e tiras biossensoras. A pessoa coleta uma pequena gota de sangue, furando com uma lanceta um dos dedos das mãos. Depois coloca essa gota na tira que já foi inserida no glicosímetro e em alguns segundos o resultado aparece na tela do aparelho. A glicemia capilar pode ser medida várias vezes por dia o que auxilia muito na organização do tratamento com remédios e/ou insulina.

    O monitoramento precisa ser feito também através de exames de laboratório, que permitem obter mais informações do controle do diabetes num determinado período de tempo e outras alterações importantes a serem pesquisadas para evitar as complicações da doença. Os exames deverão sempre ser solicitados pelo médico assistente.

    Complicações do Diabetes

    O diabetes não tratado ou mal controlado pode levar a complicações graves em curto espaço de tempo. Elas ocorrem porque a glicemia constantemente elevada afeta a estrutura dos vasos sanguíneos. Isso provoca alterações microvasculares – nos vasos sanguíneos bem pequenos, e macrovasculares – nos vasos sanguíneos de maior calibre. As principais complicações são:

    1. Cardiovasculares: doença arterial coronariana com aumento do risco de infarte do miocárdio; acidente vascular cerebral (AVC); doença arterial periférica que pode levar a amputações.
    2. Nefropatia diabética: danifica os microvasos dos rins podendo levar à insuficiência renal crônica.
    3. Retinopatia diabética: danifica os microvasos da retina, causando redução importante da visão e cegueira.
    4. Neuropatia diabética: danos aos nervos, que faz surgir formigamentos, perda de sensibilidade ou problema nos órgãos internos.
    5. Pé diabético: feridas graves nos pés por causa da má circulação e da neuropatia, que podem levar à amputação.
    6. Complicações dermatológicas: maior propensão a infecções de pele como a candidíase e furúnculos.
    7. Complicações gastrointestinais: atraso no esvaziamento do estômago (gastroparesia), causando náuseas, vômitos e distensão abdominal.
    8. Infecções: aumento da probabilidade de desenvolver infecções por comprometimento do sistema imunológico.

    A adesão ao tratamento, seguindo rigorosamente as prescrições e orientações médicas, exames oftalmológicos periódicos, uma dieta balanceada, a prática regular de atividade física e o cuidado diário com os pés são as principais estratégias para evitar essas complicações. É muito importante também participar de programas de educação sobre diabetes. Esses programas ensinam sobre o autocuidado e permitem a troca de experiência entre pessoas com diabetes.

    Qual a relação entre diabetes, pressão alta e tabagismo?

    Frequentemente, diabetes e pressão alta (hipertensão arterial) coexistem, ou seja, estão presentes na mesma pessoa. Isso acontece principalmente em portadores do diabetes tipo 2, e também têm fatores de risco compartilhados. Dieta desbalanceada, obesidade/ sobrepeso, histórico familiar, sedentarismo são fatores de risco em comum do diabetes e da hipertensão.

    O diabetes e a hipertensão arterial se relacionam das seguintes formas:

    1. a resistência à insulina, no diabetes tipo2, provoca retenção de sódio nos rins e prejudica a estrutura dos vasos sanguíneos, dificultando a circulação do sangue e aumentando a pressão arterial.
    2. a insulina em níveis elevados, por causa da resistência insulínica, tem o efeito de provocar estreitamento dos vasos sanguíneos, podendo causar hipertensão.
    3. a glicemia constantemente elevada altera a estrutura dos vasos sanguíneos, o que compromete a capacidade de dilatação e aumenta a resistência periférica, resultando em hipertensão.
    4. tanto o diabetes quanto a hipertensão arterial provocam um estado crônico de inflamação no organismo.

    A combinação de diabetes e pressão alta exige uma atenção especial, pois ambas as condições aumentam significativamente a possibilidade de complicações graves. Por isso é fundamental o controle adequado de ambas para garantir uma boa saúde a longo prazo.

    Diabetes e tabagismo têm uma ação sinérgica, porque quando combinados, potencializam os efeitos negativos sobre a saúde e exacerbam os riscos de complicações graves. Deixar de fumar é uma das medidas mais importantes que uma pessoa com diabetes precisa tomar. O tabagismo não apenas agrava os efeitos do diabetes, mas também adiciona riscos, o que dificulta o manejo da doença. Parar de fumar melhora o controle do diabetes e reduz o risco de complicações.

    E para terminar

    Viver com diabetes é desafiador mas com os cuidados certos é possível levar uma vida plena, ativa e saudável. O diabetes não define quem você é – ele é apenas um aspecto da sua jornada. Lembre-se que o conhecimento é seu maior aliado. Ao aprender mais sobre o diabetes você terá mais condições de fazer escolhas saudáveis e que vão beneficiar seu tratamento. Você tem o controle sobre a sua saúde e cada pequeno esforço conta.

    A sua saúde é sua maior riqueza e você não esta sozinho nessa caminhada. Seus médicos e os demais profissionais de saúde, sua família e amigos caminham junto com você. Acredite em si mesmo e no seu poder de superar os desafios que o diabetes impõe, e transformar sua saúde com disciplina e determinação.

    Para saber mais

    https://www.diabetes365.pt

    https://www.anad.org.br

    https://linktr.ee/institutodiabetesbrasil?utm_source=linktree_profile_share&ltsid=c81d988c-7c37-44b6-9af6-62c57325f90f

    https://www.scielo.br/j/abem/a/pXsTpdtJcZV7dQy5rQHk9cc/?lang=pt&format=pdf

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